Entrevista Alexandre Gama

O site Jornalirismo (http://www.jornalirismo.com.br/) fez uma entrevista ótima com Alexandre Gama (foto), o presidente da agência Neogama/BBH, que é hoje uma das principais agências de propaganda do Brasil e do mundo. Atendem contas de clientes grandes, como o Bradesco, Diageo etc.
Veja abaixo um dos principais trechos da entrevista e a entrevista completa clicando no link abaixo:
Alexandre Gama – Fui na base do “Vamos nessa, já me separei, e emocionalmente não tem nada pior que isso”. Mas trabalhar na DM9 era muito pior.
Jornalirismo – Era uma espécie de capitania hereditária, coisa de sinhozinho?
Alexandre Gama – Era um ambiente para você trabalhar com máscara de oxigênio. Precisava.
Jornalirismo – O pessoal conta que tinha lavagem de sal grosso.
Alexandre Gama – Era uma agência de sincretismo religioso. Tinha vários jabutis, coisas que não eram propaganda. Não entendia aquilo. Fiquei quatro anos.
Jornalirismo – E era insalubre devido ao número de horas de trabalho? O estresse?
Alexandre Gama – O número de horas, claro, era altíssimo. Mas, disso, nunca reclamei. Dependendo do modo que você passa as horas, a quantidade é irrelevante. Mas, quando você é muito jovem, não liga para isso, porque não tem referência. Se hoje existem os melhores lugares para se trabalhar, lá seria um dos piores. Um ambiente ruim. Porque as referências éticas eram as piores, os valores, também [Alexandre iria depois para a agência Almap/BBDO; depois para a Young & Rubicam; e, em 1999, fundaria sua própria agência, a Neogama; em 2002, a Neogama se associaria ao grupo britânico de propaganda BBH, nascendo a Neogama/BBH].
Jornalirismo – Lembrei agora do episódio que aconteceu recentemente no MaxiMídia [no dia 9 de outubro, durante debate chamado “Oportunidades e Riscos”], um desdobramento de uma briga grande que vem há bastante tempo, entre o Fábio Fernandes [presidente da agência F/Nazca, dona, entre outras, da conta da cerveja Skol] e o Nizan [hoje responsável pelo Grupo ABC, que controla agências como MPM e Africa, entre outras]. Parecem dois tipos de modelo de negócio diferentes, ou opostos, não sei. Queria que você fosse um pouco nesse caminho.
Alexandre Gama – Tem muito personalismo na nossa profissão de publicitário. E, na verdade, nesse caso específico, ele [o conteúdo da discussão] é muito pouco relevante. O Stephen Kanitz [o consultor de empresas Stephen Kanitz], que veio logo em seguida desse papo no MaxiMídia, disse tudo. No meio da palestra, falou assim: “Olha, esses são dois tipos de empresário que, daqui a cinco anos, não vão existir mais”.
Jornalirismo – Por quê?
Alexandre Gama – Por esse tipo de empresariado estar focado no seu próprio ego, acima de tudo, como os dois demonstraram ali, realmente não se encaixam hoje no conceito que chamaria de sustentabilidade. Um conceito mais amplo de vida. Sustentabilidade não é um conceito ambiental. A gente está tentando mudar, para encarar a sustentabilidade como um conceito de vida. Individual, primeiro, comunitário e coletivo, depois. Se você compra o conceito de sustentabilidade, tem que ir a fundo, não dá para comprar só um pedaço. A primeira coisa que acontece ao adotar o conceito de sustentabilidade para a sua vida é botar primeiro a ética. Ética é um conceito de regra de comportamento, e a sustentabilidade tem regras de comportamento que você tem que conhecer muito bem antes de dizer: “Vou entrar nessa”. Porque, em primeiro lugar, ela vai cobrar de você uma coerência muito grande. Gosto muito da coisa: “Walk the talk”. Andar com o que você diz. Lembro de uma frase muito reveladora sobre o outro tipo de comportamento, que é do próprio Nizan: “Eu não tenho compromisso com nada”. Acho que isso resume um tipo de ética: não ter compromisso com nada é um tipo de ética. Significa: “Eu tenho compromisso com aquilo que eu tenho de ter compromisso agora”. Esse mundo está acabando.
Jornalirismo – Mas o Nizan se coloca como o empreendedor do futuro, como o grande empresário brasileiro. E ele é?
Alexandre Gama – Não, não é. O Nizan joga para a imprensa. Joga para vocês, e vocês compram. Por quê? Porque ele sabe que o jornalismo vive de notícia, vive do que aconteceu hoje. E jornalista não tem compromisso com a verdade, tem compromisso com a notícia. E a gente vive tempos na comunicação em que realmente precisa vender jornal, vender revista. A multiplicação dos meios de comunicação indica que cada segundo seja importante. Não existe isso, não acontece uma coisa importante a cada segundo. Então o desimportante, hoje, tem uma pauta muito maior na cabeça do jornalismo do que teve em qualquer outro tempo na história do jornalismo.

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